A construção de uma usina de dessanilização em Fortaleza, no Ceará, pode causar graves problemas à conexão de internet no país. O alerta é de operadoras e da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), que consideram muito pequena a distância entre a usina e cabos submarinos de internet que respondem por grande parte do tráfego de dados entre o Brasil e o exterior.
O projeto de dessanilização planejado para a Praia do Futuro é uma alternativa para a escassez hídrica na região. Mas perto do local onde será construída a usina passam 17 cabos submarinos, de oito empresas, que transferem dados entre Brasil e outros países.
“O Ceará, em especial a cidade de Fortaleza, é que garante a interconexão do Brasil com o resto do mundo. Aqui chegam 17 sistemas ópticos com uma capacidade agregada de centenas de terabits por segundo. A Praia do Futuro representa o segundo maior hub mundial de cabos ópticos”, disse o ministro das Comunicações, Juscelino Filho, em evento no Ceará em setembro.
A Anatel instaurou um Procedimento de Acompanhamento e Controle em junho de 2021, após tomar conhecimento dos trâmites legais da Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece). O projeto da usina, que pretende ser a maior do Brasil em extensão e produção de água, avançou após estudos de viabilidade, audiências públicas e aprovação do Tribunal de Contas do Estado.
Na avaliação da Anatel, a construção da usina representa riscos para esses cabos, tanto terrestres quanto marítimos, com potencial para interrupções na conectividade internacional.
“Atualmente, a cidade de Fortaleza é um hub de cabos submarinos e é uma das cidades no mundo com a maior concentração dessas infraestruturas. Mudar essa infraestrutura seria altamente complexo e prejudicial ao país. Por outro lado, a infraestrutura de dessalinização ainda não foi construída e possui outras opções de localização”, diz a agência.
A Conexis Brasil Digital, que representa as empresas de telecom, diz que tem acompanhado as discussões sobre a construção da usina de dessalinização no Ceará com preocupação diante dos riscos apontados pela área técnica da Anatel.
“As empresas reforçam ainda a importância de se manter a integridade dos cabos submarinos para a disponibilidade de todo ecossistema de telecomunicações do nosso país e manutenção da comunicação do Brasil na internet”, diz a organização.
O objetivo do projeto é aumentar em 12% a oferta de água em Fortaleza e região metropolitana. A previsão é que as obras tenham início em março de 2024, com prazo estimado de conclusão para o primeiro semestre de 2026, com investimento de R$ 520 milhões.
Em encontro realizado em setembro entre o Ministério das Comuicações e o governo cearense, o diretor-presidente da Cagece, Neuri Freitas, explicou que a distância entre cabos e outras infraestruturas foi ampliada de 40 para 500 metros.
As operadoras dizem que, mesmo com a ampliação da distância, o problema continua porque as obras podem criar reverberação, o que interferiria nos cabos.
“Com a vibração da água [pelos dutos de sucção] pode haver rompimento dos cabos”, pontou o vice-presidente institucional da Claro, Fábio Andrade, em entrevista à “Folha de S.Paulo”.
Outro problema, segundo ele, é que mesmo com a distância ampliada a instalação da usina pode atrapalhar a expansão da internet no país e a conexão internacional.(com Gazeta do Povo)