A Polícia Federal investiga um golpe de R$ 6,3 bilhões em aposentados e pensionistas do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) na operação Sem Desconto. Os repasses vão de 2019, ainda na gestão Bolsonaro (PL), até o governo atual, do presidente Lula (PT).
Quem são funcionários do INSS
Alessandro Stefanutto, ex-presidente do INSS
O então presidente do INSS agiu para liberar os descontos em folha de aposentados, diz a PF. Ele foi afastado do cargo após ordem da Justiça Federal e, posteriormente, pediu demissão. Stefanutto nega as acusações. Ele foi indicado pelo ministro da Previdência Social, Carlos Lupi (PDT).

Virgílio Antônio Filho, ex-procurador do INSS
Virgílio Antônio Filho foi afastado do INSS após suspeitas de que recebeu propina. Os repasses, que foram para a compra de imóveis pela família de Virgílio, geraram aumento de R$ 18,3 milhões no patrimônio dele e pouco mais de seis meses, segundo a PF.
Desse montante, R$ 7,5 milhões foram repassados à mulher de Virgílio, Thaisa Hoffmann Jonasson, entre fevereiro e junho de 2024. Transações financeiras entre a empresa de Thaisa, a Curitiba Consultoria em Serviços Médicos S/A, e o lobista Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “careca do INSS” foram investigadas pela PF —um Porsche Taycan 2022, avaliado em R$ 1 milhão, de propriedade de Antunes, era utilizado por Thaisa.

André Fidelis, ex-diretor do INSS
Relatório da PF aponta que ele recebeu R$ 5,2 milhões. Fidelis, que foi diretor de Benefícios e Relacionamento com o Cidadão do INSS até julho de 2024 e hoje é analista do instituto, teria sido beneficiado por repasses intermediados pelas empresas de seu filho, Eric Douglas Martins Fidelis.
Alexandre Guimarães, ex-diretor do INSS
Ele abriu uma empresa por onde teria recebido dinheiro do “careca do INSS”. O ex-diretor de Governança, Planejamento e Inovação recebeu R$ 313 mil, diretamente e por sua pessoa jurídica, de Antunes, segundo dados bancários analisados pelos investigadores. Guimarães saiu do órgão em abril de 2023.
Quem são os empresários e lobistas
Antônio Carlos Camilo Antunes, o “careca do INSS”
A PF aponta Antônio Carlos Camilo Antunes como figura central do esquema. Conhecido como “careca do INSS”, ele recebeu R$ 53,88 milhões de associações envolvidas no esquema e fez repasses milionários para servidores do órgão suspeitos de participação nos crimes, segundo a PF.
Investigações mostram que o “careca do INSS” era intermediário financeiro das entidades associativas. O papel dele era conseguir dados de pensionistas, com os quais as associações faziam descontos nas folhas de pagamento de forma fraudulenta.
Os investigadores apontaram pelo menos 22 empresas em nome do lobista. Parte delas atuava nas relações com entidades que recebiam os valores descontados das aposentadorias,segundo a PF. Ele recebia o dinheiro das organizações e fazia os repasses, muitas vezes no mesmo dia, a servidores suspeitos de envolvimento no esquema. Antunes mantinha um baixo saldo na conta, o que indica “possível urgência em dificultar o rastreamento dos valores”, diz relatório da PF.
Associações estão envolvidas em esquema
Cecilia Rodrigues Mota, advogada e presidente da Aapen e AAPB
A investigação da PF indica que a advogada Cecilia Rodrigues Mota recebeu R$ 14 milhões em menos de um ano. Apontada como participante do esquema, ela fez 33 viagens em 11 meses, e a PF suspeita que malas com dinheiro foram transportadas por seus acompanhantes, que recebiam dinheiro do seu escritório.

A advogada presidia simultaneamente duas associações. Tanto a Aapen (Associação dos Aposentados e Pensionistas Nacional) quanto a AAPB (Associação dos Aposentados e Pensionistas do Brasil) são suspeitas de aplicar descontos indevidos em aposentadorias e pensões.
Acompanhantes de Cecilia transportaram 31 malas. Em relatório, a PF suspeita da quantidade de malas em uma dessas viagens, a Dubai. “Incomum para uma viagem internacional de sete dias”, diz o relatório. “Cada passageiro poderia carregar aproximadamente R$ 5 milhões em notas de R$ 100, considerando uma bagagem de mão permitida a bordo do avião”, calculou a PF.
Quem são os envolvidos com descontos nas aposentadorias de agricultores
Aristides Veras dos Santos, presidente da Contag.
O presidente da Contag, Aristides Veras dos Santos, é acusado de solicitar o desbloqueio dos benefícios para o pagamento de descontos por associação. Com a ajuda de outras duas funcionárias da Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura), foram solicitados 34.487 descontos nas aposentadorias de agricultores associados.

Documento que solicitou desbloqueio de descontos nas aposentadorias foi considerado irregular pela auditoria interna do INSS. O fluxo financeiro da Contag também indicou transferências significativas para entidades sindicais como Fetag-BA (Federação dos Trabalhadores Rurais do Estado de Bahia) e Ferasp (Federação dos Empregados Rurais Assalariados do Estado de São Paulo), e para a empresa Orleans Viagens —veja os valores repassados pela Contag, segundo a PF:
Fetag-BA: R$ 10.532.438,47
Ferasp: R$ 7.990.000
Orleans Viagens e Turismo: R$ 5.212.357,93
WJ Locação e venda de estruturas para eventos: R$ 843.632
Tutano Culinária Artesanal: R$ 737.850,72
Alberto Ercilio Broch, vice-presidente da Contag
Broch é acusado de lavagem de dinheiro, segundo a PF. As investigações tentam descobrir a origem de transações financeiras entre o vice-diretor e a empresa Max Cambio e Turismo. Não foi possível identificar o remetente da quantia de R$ 130.440 (uma transação de R$ 32.000 e outra de R$ 98.440), explica a Polícia Federal em relatório no qual as movimentações financeiras de Ercilio são questionadas.
PF analisa compra de imóvel de R$ 1,62 milhão. Ele teria adquirido um apartamento em setembro de 2023, em Brasília, mas a origem do dinheiro não é especificada pela PF.
Edjane Rodrigues Silva, funcionária da Contag
Assinava pedidos de desbloqueio de verbas. Investigações levaram ao nome da secretária de Políticas Sociais da Contag, Edjane Rodrigues Silva, identificada como a pessoa que assinou o ofício pedindo que 34.487 benefícios fossem descontados de aposentadorias.
Entre 2019 e 2024, a Contag arrecadou mais de R$ 2 bilhões. Mais de 1,3 milhão de aposentados e pensionistas da agricultura tiveram valores descontados e direcionados para grupos de empresas e pessoas que não tinham nenhuma relação com a confederação, diz a PF.
Operação investiga compra de imóvel por secretária da Contag. A investigação aponta que ela adquiriu um apartamento no Distrito Federal no valor de R$ 330 mil em agosto de 2021.
A Contag afirma que ela é agricultora familiar e vive em um assentamento com área de 14,5 hectares. “Produtora de milho e feijão”, Edjane tem um perfil no site da confederação que conta a história da sua filiação aos 18 anos e como se tornou agricultora familiar.
Thaisa Daiane Silva, secretária geral da Contag
A PF questiona a compra de dois imóveis pela funcionária da Contag após a “farra dos descontos”. O primeiro seria uma casa em Campo Grande no valor de R$ 599.600, comprada em fevereiro de 2022. Ela também adquiriu uma gleba em Estrela Jaguari (MS) por R$ 4.749,59 em janeiro deste ano.
Segundo a Contag, ela “produz mandioca, abobrinha, hortaliças e frutas”. O site da confederação alega que Thaisa Daiane é agricultora familiar em Jaguari, município onde conheceu o sindicato aos 14 anos, enquanto trabalhava com a mãe.
Informações: Uol